A Casa dos Budas Ditosos (Coleção Plenos Pecados: Luxúria) – João Ubaldo Ribeiro

2 abr

Sinopse: Ao receber, segundo afirma, um pacote com a transcrição datilografada de várias fitas, gravadas por uma misteriosa mulher, o escritor João Ubaldo Ribeiro não podia imaginar o que o esperava. E o inocente leitor, que sequer pode suspeitar o que o aguarda em cada uma das páginas deste livro. Nelas se conta uma vida. E a suposta autora teria enviado seu testemunho para que fosse utilizado para o volume sobre a luxúria da Coleção Plenos Pecados. O escritor aceitou o oferecimento e o resultado final está agora diante de você. Que deve preparar-se para um relato pouco comum, às vezes chocante, às vezes irônico, sempre instigante. Na verdade, dificilmente a ficção poderia alcançar os limites do que a devassa senhora viveu e narra em detalhes riquíssimos. Se o leitor tem alguma dúvida, ela logo se dissipará, neste fascinante mergulho na vida espantosa de uma mulher sem dúvida excepcional, cuja narrativa alcança as dimensões de um retrato sociológico de toda uma cultura e uma geração, envolvendo um dos pecados mais indomáveis, e capitais. A luxúria.

 O fato de não saber se “A Casa dos Budas Ditosos”, é de fato uma biografia, me instigou muito. Fiquei me imaginando sentada confortavelmente num lugar tranquilo, como uma chácara, ao lado de uma senhorinha doce com cara de avó, a contar-me sua história, e me chocar com isso. E o choque não é com a história em si, mas com a personagem, pensar em uma senhora com cerca de 70 anos, narrando as mais loucas aventuras sexuais, me deixou constrangida (e me acho super cabeça aberta), pois vejo as pessoas da melhor idade com um ar de “imaculados”, e imaginar tais cenas vividas por alguém como uma “avó”, é que me deixou inibida… é esquisito pensar assim, afinal se não fosse minha avó não estaria aqui, mas, não consegui evitar rsrs.

O livro é narrado por uma libertina baiana de cerca de 70 anos, culta, burguesa apaixonada pela vida, que faz um relato “verídico” de suas peripécias sexuais no século XX. Logo no começo do livro ela fala da dificuldade de escrever o que se fala, porque ela narra o livro como se estivesse conversando com um amigo, ela não tem papas na língua, fala muito palavrão, e isso tira do livro a tensão de algumas cenas (foi assim comigo). Quero ressaltar também que adorei as ilustrações do livro, é um convite a liberar a imaginação.

“Há exigência de passaporte para as palavras passarem do falado ao escrito, algumas não conseguem nunca, a humanidade é muito estranha”.

Eu amei o livro, e creio que a reação que provocará no leitor será realmente intensa, amar ou odiar a obra. É acima de tudo uma forte crítica ao falso moralismo, que ela chama de atraso, um chamamento à liberdade sexual, especialmente as mulheres, que suprimem e muito seus desejos, por conta de uma sociedade ainda hipócrita e moralista.

Os relatos sexuais são feitos de formas explicitas, sem pudor e com muita irreverência, com naturalidade, como se falasse de uma receita de bolo ela nomeia posições, órgãos, gostos, é uma loucura rss. Ela tem prazer pelo sexo, e se permite vivenciar tudo que deseja: orgias, incesto, lesbianismo, ménage à trois… Ela e Norma Lucia, sua grande amiga, se deleitam com a vida, simples assim. Os tabus estão em nossa cabeça, deveríamos encarar o sexo por uma das vertentes do BDSM, se é consensual tudo pode entre os envolvidos.

O livro não é mera obra pornográfica, apesar de ser uma boa pedida dentre a literatura erótica, mas essencialmente é um chamado à reflexão, pra nos livrarmos das amarras que por ventura tenhamos, impostas desde sempre por uma sociedade castradora, onde o prazer ainda é visto como pecado.

E termino aqui, recomendando certamente a leitura deste livro, e deixando um recadinho dessa corajosa mulher (já sou fã dessa heroína)… boa leitura a todos.

“Penso principalmente nas mulheres, gostaria que as mulheres, ao tempo em que se tornassem mais ousadas, se tornassem também mais abertas, mais compreensivas, deixassem de ser tão mulheres, por assim dizer… quero que as mulheres fiquem excitadas… quero criar um clima de luxúria e sofreguidão.”

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